Cadê o ranço da palavra gratidão que estava aqui?
Gratidão é a palavra da moda.
O bom e velho obrigado foi extinto.
A #gratidao bomba nas legendas do Instagram, geralmente com uma foto totalmente trabalhada de uma situação qualquer.
Eu sempre achei a palavra gratidão muito forte.
Me lembro que lá nos meus 15, 16 anos pensava em fazer uma tatuagem com algumas palavras de significado intenso e gratidão era uma delas.
Essa tattoo nunca foi feita, o medo da dor falou mais alto.
O tempo passou, o uso de gratidão se banalizou e peguei ranço da palavra.
A cada gratidão que ouvia ou lia, sentia faniquito ou fazia a expressão do emoji revirando os olhos.
O tempo continuou passando, ganhei alguma experiência de vida e cheguei em 2020, presa em casa por causa de uma pandemia.
E foi neste período que a tal da gratidão bateu forte dentro de mim.
Aquela gratidão por entender quem eu sou, qual a minha realidade comparada a de outras pessoas, do caminho que percorri até chegar no lugar que estou hoje…
De enxergar além da bolha e perceber meu lugar no mundo.
Essa tal de gratidão faz com que eu entre em contradição e reprograme os pensamentos de tempos em tempos.
Desde o início da pandemia, defendi o trabalho home office, a determinação de ficar em casa e que as pessoas usassem toda a tecnologia que este mundão oferece para ficarem mais próximas dos parentes e amigos.
Um discurso muito simples e prático.
Passando alguns dias da quarentena, fui entendendo que muitas pessoas não tinham um ambiente confortável para ficar, que fazer home office é um grande privilégio e que, sim, mesmo tendo uma boa consciência do todo, eu ainda vivia em uma bolha.
Olhei pro meu apartamentinho alugado, com 1 quarto e 1 banheiro, longe do conceito de ostentação, e soltei espontaneamente: gratidão.
Logo após, passou um filme na minha cabeça: lembrei de todo o esforço feito pelos meus pais, com a luta diária para que eu pudesse ter acesso ao máximo de ferramentas para desenvolver o meu conhecimento (nunca me esqueço no meu primeiro desktop Positivo parcelado da Casas Bahia) e, claro, de toda minha luta individual quando virei adulta.
Esta rotina de me sentir agradecida e relembrar do caminho, enxergando todo o contexto, está acontecendo frequentemente, pra tudo.
Com isto, redescobri o significado de gratidão e a força que ela tem.
Gratidão é mais do que agradecer pelo lindo dia de sol lá fora.
É enxergar o sofrimento do outro. Respeitar o que cada um está passando neste momento. Entender os problemas da sociedade. A realidade do país. Se revoltar com discursos de ódio. Parar de reclamar por pouco. Ter convicção daquilo que acreditamos. É não se omitir. É espalhar carinho, mesmo que virtualmente.
Ela tem ligação direta com a empatia.
Sendo empático e gentil, o sentimento de gratidão surge, tanto para você quanto para o seu próximo. A energia interior fica leve.
Mas isto é uma visão minha.
Por isso, após passar com todo este processo de reflexão, procurei artigos e textos que falavam sobre o assunto para ver se alguém citava a ligação entre gratidão e empatia.
Nesta pesquisa, li textos muito interessantes. E encontrei conclusões parecidas com a minha.
Separei 2 trechos que aparecem que foram escritos para o meu texto.
O primeiro é do Vida Simples que diz:
“Gratidão é amor, compaixão, tolerância, e está mais do que claro que bons atos levarão a outros bons atos. E seu exercício promove efeitos bioquímicos para todos, não só pra gente mesmo.”
Já o outro trecho foi retirado da Revista Bula:
“A gratidão limpa a alma. Dizer “obrigado” significa o dever de, no mínimo, reconhecer que o feito do outro fez algum bem. Gratidão, portanto, pressupõe empatia, nobreza e, acima de tudo, humildade.”
Penso que, em tempos complicados como o que estamos passando, o único caminho que nos resta é compartilhar amor, mais ouvir do que falar, enxergar de verdade o próximo.
A conhecida definição de ser bom, sabe? E, pra mim, isto não tem discussão: ou você é ou você não é. No meio de todos os defeitos e qualidades, a bondade está ali, na essência.
Obrigada, gratidão, por ter me reencontrado novamente.
Será que chegou a hora de fazer aquela tatuagem?
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*Este texto expressa a opinião da redatora.