Cadê o ranço da palavra gratidão que estava aqui?

Vanessa Forti
4 min readJun 3, 2020
Foto: Adobe Stock

Gratidão é a palavra da moda.

O bom e velho obrigado foi extinto.

A #gratidao bomba nas legendas do Instagram, geralmente com uma foto totalmente trabalhada de uma situação qualquer.

Eu sempre achei a palavra gratidão muito forte.

Me lembro que lá nos meus 15, 16 anos pensava em fazer uma tatuagem com algumas palavras de significado intenso e gratidão era uma delas.

Essa tattoo nunca foi feita, o medo da dor falou mais alto.

O tempo passou, o uso de gratidão se banalizou e peguei ranço da palavra.

A cada gratidão que ouvia ou lia, sentia faniquito ou fazia a expressão do emoji revirando os olhos.

O tempo continuou passando, ganhei alguma experiência de vida e cheguei em 2020, presa em casa por causa de uma pandemia.

E foi neste período que a tal da gratidão bateu forte dentro de mim.

Aquela gratidão por entender quem eu sou, qual a minha realidade comparada a de outras pessoas, do caminho que percorri até chegar no lugar que estou hoje…

De enxergar além da bolha e perceber meu lugar no mundo.

Essa tal de gratidão faz com que eu entre em contradição e reprograme os pensamentos de tempos em tempos.

Desde o início da pandemia, defendi o trabalho home office, a determinação de ficar em casa e que as pessoas usassem toda a tecnologia que este mundão oferece para ficarem mais próximas dos parentes e amigos.

Um discurso muito simples e prático.

Passando alguns dias da quarentena, fui entendendo que muitas pessoas não tinham um ambiente confortável para ficar, que fazer home office é um grande privilégio e que, sim, mesmo tendo uma boa consciência do todo, eu ainda vivia em uma bolha.

Olhei pro meu apartamentinho alugado, com 1 quarto e 1 banheiro, longe do conceito de ostentação, e soltei espontaneamente: gratidão.

Logo após, passou um filme na minha cabeça: lembrei de todo o esforço feito pelos meus pais, com a luta diária para que eu pudesse ter acesso ao máximo de ferramentas para desenvolver o meu conhecimento (nunca me esqueço no meu primeiro desktop Positivo parcelado da Casas Bahia) e, claro, de toda minha luta individual quando virei adulta.

Esta rotina de me sentir agradecida e relembrar do caminho, enxergando todo o contexto, está acontecendo frequentemente, pra tudo.

Com isto, redescobri o significado de gratidão e a força que ela tem.

Gratidão é mais do que agradecer pelo lindo dia de sol lá fora.

É enxergar o sofrimento do outro. Respeitar o que cada um está passando neste momento. Entender os problemas da sociedade. A realidade do país. Se revoltar com discursos de ódio. Parar de reclamar por pouco. Ter convicção daquilo que acreditamos. É não se omitir. É espalhar carinho, mesmo que virtualmente.

Ela tem ligação direta com a empatia.

Sendo empático e gentil, o sentimento de gratidão surge, tanto para você quanto para o seu próximo. A energia interior fica leve.

Mas isto é uma visão minha.

Por isso, após passar com todo este processo de reflexão, procurei artigos e textos que falavam sobre o assunto para ver se alguém citava a ligação entre gratidão e empatia.

Nesta pesquisa, li textos muito interessantes. E encontrei conclusões parecidas com a minha.

Separei 2 trechos que aparecem que foram escritos para o meu texto.

O primeiro é do Vida Simples que diz:

“Gratidão é amor, compaixão, tolerância, e está mais do que claro que bons atos levarão a outros bons atos. E seu exercício promove efeitos bioquímicos para todos, não só pra gente mesmo.”

Já o outro trecho foi retirado da Revista Bula:

“A gratidão limpa a alma. Dizer “obrigado” significa o dever de, no mínimo, reconhecer que o feito do outro fez algum bem. Gratidão, portanto, pressupõe empatia, nobreza e, acima de tudo, humildade.”

Penso que, em tempos complicados como o que estamos passando, o único caminho que nos resta é compartilhar amor, mais ouvir do que falar, enxergar de verdade o próximo.

A conhecida definição de ser bom, sabe? E, pra mim, isto não tem discussão: ou você é ou você não é. No meio de todos os defeitos e qualidades, a bondade está ali, na essência.

Obrigada, gratidão, por ter me reencontrado novamente.

Será que chegou a hora de fazer aquela tatuagem?

Se você se identificou com o tema, dê um clap para que este conteúdo chegue a mais leitores.

E fique à vontade para comentar e compartilhar com os amigos.

*Este texto expressa a opinião da redatora.

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Vanessa Forti

São Paulo, Brasil | UX Writer. Escrevendo sobre assuntos aleatórios aqui no Medium desde 2020. Instagram: @vanessa_forti